quarta-feira, novembro 10, 2004

Mãe

Quando eu tinha meus 18 anos (ah, não faz tanto tempo assim) eu e um amigo vimos um anúncio na Folha Dirigida, jornal de desempregado, sobre um concurso público, o salário era de 1.500 reais e só exigia 2 grau, daí fizemos mil planos caso passássemos no tal concurso, coisas como: sair da casa dos pais e ir morar numa casa juntos, chegamos a ver até os preços dos eletrodomésticos, tamanho eram os nossos sonhos. Cheguei em casa e contei pra minha mãe que eu queria me inscrever nesse concurso, ela ficou animadíssima com a idéia da filhota ganhar 1.500 no primeiro emprego. E eu disse a ela que se eu passasse eu iria morar com meu amigo, ou seja, iria sair de casa. Ela ficou estática. Um silêncio tomou conta da casa. No dia seguinte, todos os meus tios (7) ligaram pra mim pra falar coisas do tipo "a sua mãe não merece isso", "você está apunhalando a pessoa que mais te ama", "como você pode fazer uma coisas dessas?", "sua mãe chorou muito, ela está muito triste". Olhando por uma lado, minha mãe teve as razões dela pra achar tudo aquilo, que eu a estava abandonando e tal. Mas será que não passou pela cabeça dela que o que eu queria era não dar mais trabalho? Será que em nenhum momento ela pensou que ela mesma saiu de casa aos 16 anos? Por que será que ela não pensou que eu queria sair de casa apenas para criar asas, que isso é um processo natural, por quê? E então eu percebi que ela sempre distorceu as coisas que eu disse, mas que eu tinha que conviver com isso, afinal é minha mãe e é o ser humano mais incrível que eu já conheci.

P.s 1: Eu nem cheguei a fazer a prova.
P.s 2: Sabe quando você começa a escrever um texto querendo falar de um assunto e o mesmo toma outras proporções? Outros caminhos? Foi isso que aconteceu com esse texto. Melhor assim.