quinta-feira, outubro 21, 2004

O ímpeto de força de um ser humano pela sobrevivência

Passei por momentos de pânico nesta manhã. Fiquei presa dentro do quarto, a porta emperrou e eu me vi só e desamparada. Vocês estão rindo? Vão se ferrar! Não tem nem um mês que eu estou nessa casa, logo, não conheço determinadas coisas, como por exemplo, o funcionamento de uma porta temperamental. Só pra explicar direito: minha mãe não estava em casa, minha cachorra está no cio, o meu cão fica preso na área e puto porque está longe de sua amada ele começa a uivar. Para que isso não acontecesse, eu fui dormir esta noite no quarto de madresita, cuja janela dá para a área onde eu poderia mandar o Beethoven calar a boca sempre que ele ameaçasse uivar.

Voltando aos meus momentos de pânico, ontem à noite quando eu fui deitar, bati a porta muito forte, fui tentar abrir e não consegui, mas não fiz força, então nem dei bola para aquilo e fui dormir sossegada. De manhã acordo já com os raios do sol na minha cara, estava ainda com sono, mas levantei pra ver que horas eram (eu já contei isso aqui, toda vez que eu acordo, tenho que saber que horas são, do contrário não consigo dormir novamente). Pois bem, levantei e fui calmamente abrir a porta.... e não consegui. Tentei mais um pouco e nada, sentei na cama como quem diz “meu deus, e agora? o que eu faço?”, e o desespero tomando conta de mim.

Minha mão já estava doendo, peguei um pano e fui tentar de novo, claro, inutilmente. Fiquei uns bons minutos ali, quando me entreguei e sentei na cama como quem diz “meu deus, eu tô perdida”. Fiquei sentada ali um tempão, só olhando pra porta e pensando na vida, "será que eu grito?", "será que vão me escutar?", "não, não vão me escutar", "eu vou ter que fazer isso sozinha". Levantei e tive a grande idéia de vasculhar o quarto da minha mãe a procura de alguma chave de fenda que pudesse me auxiliar a empurrar a porta. Na hora do desespero pensamos um monte de coisas. Não achei a tal ferramenta, apenas uma tesoura pequena, dessas que usamos no primário. Naquele momento eu já estava com uma vontade enorme de ir ao banheiro. Usei a tesourinha pra empurrar/puxar a porta. Não deu em nada, passou um tempo, continuei tentando e...nada. Foi aí que eu me dei conta de um detalhe: a porta não estava apenas emperrada, o que estava atrapalhando era a própria fechadura, era ela que estava emperrada, ou seja, eu poderia puxar a porta com toda a força que eu não iria conseguir abrir. Sentei na cama novamente como quem diz "eu desisto", "eu vou morrer aqui até alguém se dar conta do meu sumiço e invadir minha casa", "deus, me ajuda".

Até que num ímpeto de coragem eu pensei: “e se eu destruir a porta?”. Foi o que eu fiz, pequei um cabide e junto com a tesoura comecei a destruir a porta na região da fechadura, pacientemente como se eu estivesse tirando a areia do deserto com uma colher. Lembrei de O velho e o mar, de Ernest Hemingway, fiz uma paródia na minha cabeça: A Patrícia e a Porta. Patrícia pode ser destruída, mas nunca derrotada, não seria uma mera portinha que iria me derrotar. Fui destruindo a porta até chegar a ver a fechadura, dei um sorriso, usei o cabide, puxei o tranco e saí.

Numa hora dessas a pior coisa é a falta de noção de tempo, eu não tinha a menor idéia de que horas eram, eu não sabia a quanto tempo estava ali, calculo que o processo todo levou de uma hora a uma hora e meia. Quando saí do quarto eram 8:45.

Eu sou uma vencedora.