terça-feira, janeiro 18, 2005

Falsidade é uma necessidade II

Eu nunca disse "sou filha da puta, minto para as pessoas e não tô nem aí". Eu minto, eu sou falsa, eu sou má, como todo ser humano é, assumir que somos assim é um passo para a recuperação, até ajuda a humanidade, um mundo sem hipocrisias é ótimo. Quando eu disse "falsidade é uma necessidade" eu estava sendo muito verdadeira, vou dar um exemplo simples: você usa drogas e sua mãe te pergunta se você é usuário, você vai dizer que é? Claro que não, a não ser em alguns casos, aí a pessoa até fala a verdade. Outro exemplo: você é gay e quer manter sua privacidade intacta, você vai dizer que é gay para os seus pais ou para amigos da faculdade? Você está numa entrevista de emprego e teu futuro chefe pergunta qual é o seu maior defeito, você vai dizer que é a preguiça, o egocentrismo, o cinismo? Está aí a prova de que todos somos falsos. Dificilmente somos para os nossos pais o que somos para os nossos amigos; até mesmo para a família inteira, é muito raro agirmos com nossos avós ou tios da mesma maneira que agimos com os nossos pais. Nós somos personagens! Em cada lugar que vamos nós interpretamos um papel e chegamos até a creditar que somos aquilo que interpretamos.

O grande problema de tudo é que a palavra falsidade está ligada à futilidade, logo, lembramos daquelas garotas do colégio com 16 anos e salto quinze que são falsas pra cacete, que fingem ser tudo, que são putas mas se fazem de santas, que são burras mas se fazem de cdfs. A minha falsidade nunca atingiu os limites de ser falso com quem eu detesto, nunca fingi para uma pessoa que eu gostava dela, deixo bem claro quando não vou com a cara de alguém. Raramente rio de piada sem graça e falo mal, mas muito mal, do que eu não gosto.

Um amigo meu tem uma banda, há um tempo ele me passou algumas músicas dele e eu gostei muito do som, elogiei, disse que tinha gostado muito e falei "eu não estou elogiando porque você é meu amigo, eu gostei mesmo" e ele falou "eu sei, se você não tivesse gostado você teria dito, eu te conheço", pois é, essa sou eu.

Não sei se deu para passar o que eu penso, mas ninguém é verdadeiro por completo pra ninguém. Nem para o próprio espelho, porque escondemos tantas coisas de nós mesmos, que se duvidar até os outros nos conhecem melhor. O que eu disse da falsidade é grave, não me orgulho disso, mas me orgulharia se as pessoas do mundo se dessem conta de que isso é uma verdade. Deixar a hipocrisia de lado as vezes é muito bom, ou então a vergonha de assumir tal coisa.

Usamos máscaras à medida que acontecem coisas na nossa vida que são impossíveis de serem relatadas, pode ser por arrependimento, por trauma. E quem aqui não se arrepende de alguma coisa? Quem aqui não tem um único trauma sequer? E são esses traumas que são determinantes na formação do nosso caráter, pois esconder implica em não ser transparante com o outro, logo, não somos verdadeiros.

Ser falso não significa que estou sacaneando os outros, sou muito leal as pessoas que me cercam, jamais trairia alguém, ou se um dia isso acontecer eu irei esfaquear a pessoa pela frente, nunca pelas costas.

Para aceitarmos algumas coisas, como a nossa falsidade, por exemplo, devemos descobrir primeiro quem somos, e isso só acontece quando nos perguntamos "quem eu sou?" e "do que sou capaz?". Algumas pessoas levam anos para fazer essas perguntas, outras pessoas nunca as farão, eu sou do grupo cujas perguntas já foram feitas. E eu não gostei nada das respostas.